Mãe de mulher morta pelo marido sargento com 51 facadas diz que não sabia que filha sofria violência
24/05/2025
(Foto: Reprodução) Menina, de 10 anos, contou detalhes do crime em Santos (SP) para a avó materna, de 71. A criança também foi atingida por disparos e ficou seis dias internada. Samir Carvalho matou a esposa a tiros dentro de clínica médica em Santos (SP)
Redes sociais e Daniela Rucio/TV Tribuna
A mãe de Amanda Fernandes Carvalho, morta pelo marido e sargento da Polícia Militar (PM) Samir do Nascimento Rodrigues de Carvalho, com 51 facadas e três tiros, disse à Polícia Civil que não concordava com o relacionamento deles e não sabia que ela sofria agressões e ameaças. A filha do casal, de 10 anos, que presenciou o crime e também foi atingida por três disparos.
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O caso ocorreu no dia 7 de maio, dentro de uma clínica localizada na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé. Samir atirou na esposa e na filha de 10 anos. Em seguida, ele esfaqueou Amanda. A criança foi socorrida e ficou internada por seis dias.
A mãe de Amanda, de 71 anos, prestou depoimento à Polícia Civil no dia 16 de maio. Ela contou aos agentes que a menina relatou que viu o pai dando tiros, facadas e, por último, socos na mãe. A neta teve alta da UTI, no dia 9 de maio, e descobriu sobre a morte de Amanda apenas neste dia. A menina chorou muito e, no mesmo dia, começou a dar detalhes do crime.
Além disso, a idosa disse, em depoimento, que a neta revelou que foi agredida pelo pai em outra ocasião, por conta de um preparo de achocolatado. O pai chutou a criança e, em seguida, desferiu um tapa no rosto dela.
Relacionamento conturbado
A mãe de Amanda contou que enxergava Samir como uma pessoa grosseira e fria desde que a filha o conheceu. Segundo a idosa, Amanda engravidou quando ainda morava na casa dela. Quando a neta estava para nascer, ela se mudou para viver com o policial.
Apesar disso, um mês após o nascimento da criança, o casal teve uma briga intensa, em que Samir chegou a quebrar uma cadeira. A idosa disse para polícia que não sabe o motivo do desentendimento, mas Amanda voltou para a casa da mãe por conta dele.
Um tempo depois, o sargento foi até o local para ver a filha e chegou a pegar a esposa pelo pescoço. Amanda fez um boletim de ocorrência, mas não deu sequência à denúncia. Apesar disso, ela contratou um advogado para solicitar pensão alimentícia e o policial pagava todos os meses.
Gravidez escondida
A idosa disse que não aprovava o relacionamento entre Samir e a filha dela. Por isso, Amanda não contou quando começou a sair novamente com o policial. A mulher só confessou a relação quando não conseguiu mais esconder a segunda gravidez.
Com isso, Amanda voltou a morar com o policial. A idosa disse ainda que só descobriu da violência que a filha sofria do marido no dia do velório de Amanda, quando amigas falaram sobre as ameaças que Samir fazia.
Segundo o relato, o sargento dizia que iria matar a mãe, a avó e os filhos de Amanda, caso a mulher prestasse queixa sobre as agressões. Apesar disso, a idosa contou que o genro nunca havia sido agressivo com ela.
Episódio de ciúme
A mãe da vítima lembrou também de um episódio em que Samir ficou com ciúme de mensagens de Amanda para um amigo, que tinha uma loja de eletrônicos, sobre os problemas no computador dela.
De acordo com a idosa, na ocasião, o sargento foi até a loja do rapaz e lhe ameaçou com um revólver. Em seguida, ele foi na casa da idosa e disse que iria se separar de Amanda porque estava sendo traído. No entanto, o caso extraconjugal logo foi negado pelos envolvidos.
Amanda Fernandes e Samir Carvalho (à esq.) e laudo do IML (à dir.)
Redes Sociais e Reprodução
Reconstituição
O sargento da PM Samir do Nascimento Rodrigues de Carvalho participou da reconstituição do crime nesta quinta-feira (22). A delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), afirmou ao g1 que a reprodução simulada é de "suma importância" para esclarecer dúvidas existentes no inquérito policial.
A reconstituição do crime começou no local por volta das 10h. O caso foi reproduzido por diferentes pessoas, sendo Samir, o médico que atendeu Amanda, uma secretária, uma paciente e dois PMs. A filha do casal, também baleada pelo homem, foi preservada por ser menor de idade.
Samir disse às autoridades que não lembrava detalhes do ocorrido. Apesar disso, ele revelou ter escondido a arma dentro das calças para passar por outros PMs na unidade de saúde.
Samir Carvalho matou a esposa Amanda Fernandes em Santos, SP
Reprodução/Instagram
Laudo necroscópico
O laudo necroscópico, obtido pela equipe de reportagem, indica que a maioria das facadas atingiu o lado direito do corpo de Amanda, com golpes da coxa até a face. O documento aponta também que os tiros foram disparados à distância.
O médico legista responsável pelo documento concluiu que Amanda sofreu "morte violenta, decorrente de anemia aguda por hemorragia interna traumática, em consequência dos ferimentos" causados pelos tiros e facadas.
Inativo da PM
Segundo apuração do g1 junto à Justiça Militar, a prisão do sargento resultou na chamada agregação militar, status que o coloca como inativo temporariamente.
Nessa condição, ele perde o direito ao salário e o tempo de serviço não é contabilizado.
Samir está detido no Presídio da Polícia Militar Romão Gomes, na capital paulista. No entanto, ele deve ser transferido para Santos nesta semana para participar da reconstituição do crime, de acordo com a delegada Débora Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que conduz as investigações.
O caso
O sargento da Polícia Militar (PM) Samir Carvalho foi preso em flagrante após matar a esposa Amanda Fernandes, na tarde do dia 7 de maio, dentro de uma clínica médica na Avenida Senador Pinheiro Machado, no bairro Marapé.
A filha do casal foi levada à Santa Casa de Santos. Ao g1, o hospital informou que a paciente foi atendida pela equipe multidisciplinar da emergência e recebeu alta no dia 13 de maio.
Menina que tentou salvar a mãe de tiros disparados pelo pai sargento recebe alta
Em depoimento à polícia, o médico proprietário da clínica disse ter sido surpreendido por Amanda e pela filha. Ele aguardava o horário de chamá-las para uma consulta que estava agendada.
O profissional contou às autoridades que Amanda estava muito nervosa e disse que estava sendo ameaçada pelo companheiro.
"Meu marido está comigo, está armado, é policial e ele quer me matar, pois estamos nos separando”, teria dito Amanda ao médico.
Amanda Fernandes, de 42 anos, foi morta pelo sargento Samir Carvalho, em Santos (SP)
Redes sociais
O médico contou que trancou o consultório, colocou duas cadeiras atrás da porta e ficou segurando, com medo de que fosse arrombada. Disse ainda que pediu para Amanda chamar a polícia, mas ela respondeu que uma amiga já havia acionado a corporação. Por isso, insistiu por uma nova ligação.
O homem relatou que ouviu uma batida na porta e questionou quem era, mas não teve retorno. Momentos depois, ele escutou a voz da secretária pedindo para a porta ser aberta porque a PM havia chegado. Segundo o relato, também foi possível escutar uma voz masculina dizendo: “pode abrir, é a polícia, está tudo sob controle”.
Após questionar se os agentes estavam uniformizados, o médico abriu parcialmente a porta e, em seguida, foi para atrás da mesa. Ele disse que viu, no fim do corredor, um policial fardado e depois ouviu uma sequência de mais de dez tiros.
Segundo apurado pelo g1, a menor tentou salvar a mãe, que era o alvo dos disparos, pulando na frente dela. O profissional disse para polícia que se abrigou debaixo da mesa para se proteger e acredita que o atirador tenha começado os disparos do lado de fora da sala. Ele só se levantou depois que o agressor foi contido pelas equipes policiais.
O homem contou que socorreu a filha de Amanda e, logo depois, viu o corpo da mulher com uma faca “cravada no pescoço e banhada em sangue”. Ele garantiu que nunca havia visto as vítimas antes e não chegou a ver o atirador porque se escondeu ao ouvir o primeiro tiro.
Investigação
Em nota, a SSP-SP informou que a PM instaurou um Inquérito Policial Militar para “apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender uma ocorrência que evoluiu para feminicídio e tentativa de homicídio em uma clínica de saúde”.
Anteriormente, a SSP-SP havia informado que os agentes tinham encontrado a mulher já morta e a filha do casal ferida ao chegarem no local da ocorrência, contrariando à versão obtida pelo g1 com a Polícia Civil de que os policiais estavam na clínica na hora dos disparos.
Defesa de Samir
Por meio de nota, o advogado Paulo de Jesus, que representa Samir, afirmou que na tarde do dia 8 de maio foi realizada audiência de custódia e a prisão em flagrante do policial foi convertida em preventiva. Samir foi encaminhado ao presídio Romão Gomes. Paulo de Jesus disse que a defesa se manifestará apenas quando as investigações forem concluídas.
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