Aos 62 anos, idosa decide cursar ciências contábeis após enfrentar problemas com a declaração do IR: 'Aprender para ensinar'
07/04/2025
(Foto: Reprodução) Maria da Glória Tenório, de 62 anos, se forma em ciências contábeis em junho deste ano por uma universidade de Sorocaba (SP). A decisão de iniciar o curso surgiu após a idosa cair na malha fina. Maria da Glória, que já é formada em Direito e trabalha como servidora pública, precisou organizar a rotina para dar conta dos estudos na terceira idade
Eraldo Camargo/TV TEM
Manter a mente ativa, realizar antigos sonhos e se reinventar são alguns dos motivos que fazem com que as pessoas na terceira idade decidam estudar. Mas não foram nenhum destes motivos que fizeram a sala de aula se tornar um ambiente atrativo para a Maria da Glória Tenório de Lima, de 62 anos.
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Em 2001, ela se formou em Direito. Duas décadas depois, Maria decidiu que deveria voltar ao ambiente acadêmico para cursar ciências contábeis. A escolha pelo curso não foi pensando somente em melhorar o currículo ou mudar de área profissional, mas também porque Maria da Glória quis aprender a declarar o Imposto de Renda sozinha.
"Eu recebi uma notificação que a minha declaração estava retida na malha firma. Entrei em contato com a contadora e ela fez uma notificadora. Depois, deu problema novamente e a contadora não conseguia me explicar qual era o erro. Cheguei a falar por telefone com a Receita Federal, tentavam me ajudar, mas ninguém entendia muito bem qual era a solução. Aquilo me deu uma sensação de impotência, sabe?", relembra.
Maria pensou que poderia fazer um curso rápido de contabilidade básica pela internet, mas, depois de analisar as opções, decidiu que a melhor delas era investir em um curso acadêmico, com duração de quatro anos, em uma universidade de Sorocaba (SP).
"Pensei: quer saber de uma coisa? Eu vou."
O primeiro semestre de aula foi à distância, ainda durante o período de isolamento da pandemia da Covid-19. Quando as aulas retomaram à modalidade presencial, Maria achou que não conseguiria conciliar a rotina de servidora pública e estudante. O medo de sofrer algum tipo de preconceito dos colegas de sala também surgiu.
"Nos primeiros dias de aula presencial eles olhavam pra mim, me cumprimentavam, mas sem muita proximidade. Até que um deles me reconheceu da aula online e fomos nos aproximando. E eles me acolheram de uma forma tão carinhosa, foram tão generosos de sentar junto comigo e me explicar. É muito engraçado porque eu vim de uma geração em que a pesquisa era feita em livros, então é um processo mais fácil para mim. Foi uma troca de conhecimentos", analisa.
'Troca de conhecimentos' diz Maria da Glória sobre a interação com estudantes mais jovens
Arquivo Pessoal
'Aprender para ensinar'
O próximo desafio que Maria da Glória vai enfrentar é o Exame de Suficiência, uma avaliação que comprova que o profissional está apto a exercer a profissão de contador. Para além da nova profissão, a agora estudante tem como objetivo pessoal criar um projeto voltado à educação financeira.
"Não só sobre a Declaração de Imposto de Renda, mas explicar para as pessoas o quanto é importante você cuidar do seu dinheiro, não importa quanto você tenha, ensinar sobre pagar tributos. Vejo que as pessoas têm uma dificuldade muita grande em fazer o seu 'pé-de-meia'. Quem sabe eu não consiga fazer um projeto desse, participar disso. É algo que eu já queria, mas faculdade me trouxe ferramentas, me ajudou a aprender para ensinar".
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Maria se forma em Ciências Contábeis em junho deste ano por uma universidade de Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Maria da Glória acredita que ainda tem muito a aprender. Mas, ao conversar com ela, fica perceptível que a mulher também tem muito a ensinar, principalmente sobre persistência e coragem.
"A gente não deve nunca olhar para a idade da gente. A idade é um mero referencial. Você tem que ver como você se sente em relação à vida, às pessoas e aos seus sonhos. Coragem a gente adquire na batalha, enfrentando. Tempo a gente arruma. O que eu sei é que o prazer de se superar é muito bom. Vejo que muitas pessoas gostariam de fazer um curso superior, não tiveram a possibilidade e agora, que tem mais facilidade, não fazem por vergonha, por causa da idade. Acreditem, vocês vão aprender. Eu aprendi e continuo aprendendo. Me sinto realizada".
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O primeiro objetivo da Maria, aquele que serviu como "ponto de virada" para que ela decidisse voltar a estudar, já foi atingido.
"E todos os anos que têm treinamento na faculdade, eu participo, mesmo não sendo mais atividade obrigatório. Continuo porque gosto de ajudar, gosto de explicar, gosto de aprender. Aprendi a fazer o meu Imposto de Renda, ainda dou 'pitacos' na declaração dos outros. Arrumei declarações de anos anteriores. Não preciso mais de escritório. É o prazer de saber que você consegue fazer sozinha. Costumo dizer 'agora ninguém me engana mais'", conclui, com risos.
Maria da Glória pensa em fazer projeto social voltado à educação financeira após se formar em Ciências Contábeis
Eraldo Camargo/TV TEM
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